Me restou uma pena, caindo nos campos
devastados com suavidade, lentamente, para tocar a relva queimada como prova do
real e do palpável. Caiu lentamente, atritando-se ao máximo com o ar, desabando
leve, mas com uma carga emocional demasiada e massacrante. Caiu. E cá estou eu, sem alegrias supremas ou depressões profundas,
apenas um vazio estático que me anuncia um término há muito profetizado. Não,
não chega a ser um término, pois só termina o que começou, e de começo aquilo pouco
teve. Mas foi palpável, teve um início, isso
garanto. É como uma saída na madrugada, repleta de solidão e tontura,
seguindo ao supermercado 24 horas para comprar um punhado de besteiras cheias
de sódio e várias latas de coca cola (porque sou inútil o suficiente para não
degustar o prazer do alcoolismo). Sozinho naquela seção, sozinho pelas
prateleiras, escolhendo qual salgadinho levar: o de 90g ou o de 200g? Num
dilema quase existencial, pondo naquele questionamento a distração para
pensamentos ruins e desoladores. Como uma
pena caindo, sinuosa pela ar, deslizando por uma atmosfera fechada de cinzas e monóxido
de carbono. Corroendo todas as veias que me transportam oxigênio ao
cérebro, tragando memórias e esmagando planejamentos. Nesse ínterim, poucas
coisas já importam. E só me resta refletir, pagar os salgadinhos com
refrigerante e voltar pra casa.
São 03h27m.
E uma pena vai caindo.
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