13 de março de 2013

Pena




Me restou uma pena, caindo nos campos devastados com suavidade, lentamente, para tocar a relva queimada como prova do real e do palpável. Caiu lentamente, atritando-se ao máximo com o ar, desabando leve, mas com uma carga emocional demasiada e massacrante. Caiu. E cá estou eu, sem alegrias supremas ou depressões profundas, apenas um vazio estático que me anuncia um término há muito profetizado. Não, não chega a ser um término, pois só termina o que começou, e de começo aquilo pouco teve. Mas foi palpável, teve um início, isso garanto. É como uma saída na madrugada, repleta de solidão e tontura, seguindo ao supermercado 24 horas para comprar um punhado de besteiras cheias de sódio e várias latas de coca cola (porque sou inútil o suficiente para não degustar o prazer do alcoolismo). Sozinho naquela seção, sozinho pelas prateleiras, escolhendo qual salgadinho levar: o de 90g ou o de 200g? Num dilema quase existencial, pondo naquele questionamento a distração para pensamentos ruins e desoladores. Como uma pena caindo, sinuosa pela ar, deslizando por uma atmosfera fechada de cinzas e monóxido de carbono. Corroendo todas as veias que me transportam oxigênio ao cérebro, tragando memórias e esmagando planejamentos. Nesse ínterim, poucas coisas já importam. E só me resta refletir, pagar os salgadinhos com refrigerante e voltar pra casa.
São 03h27m.
E uma pena vai caindo.

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