“Eu
poderia ser encaixotador, carregador, ajudante de auxiliar. Eu poderia ser
qualquer coisa e ainda assim voltaria até aqui”. Recebi um olhar de
desprezo, típico de chupadores de merda que adoram parecer superiores, mas que
estão na mesma merda que você – ou até pior, ao menos eu uso a porra do meu cérebro.
Olharam-me desconfiados, sem sequer entender minhas palavras, digo, não o seu
significado superficial, mas o profundo. “E
como tu vais ganhar dinheiro?”. Isso é um emprego! Não entra na cabeça de
ninguém? Quis responder algo mais baixo, quis até responder isso, mas não coube
ao meu cansaço, eu estava fraco demais para discutir a mesma conversa depois de
tantos anos repetindo, repetindo e repetindo. Por isso retruquei “é um emprego, têm-se um contrato, ganha-se
por isso. Você trabalha diariamente,
cumpre um prazo e entrega o material”. É tão difícil assim entender? Só estou
tornando meu ofício de sempre um “ofício oficial”. De um jeito ou de outro, os
chupadores de merda continuaram com aquele olhar de superioridade, dando
palpites sobre a parte da minha vida que eles nem sequer tinham se esforçado a
chegar. Deixem-me. Eis a minha profissão, só estou agindo conforme aquele ideal
que vocês tanto adoram dizer com frescura e idealização: siga seus sonhos. Eu estou seguindo os meus, ou tentando, não estou
parando, apesar de todo o pessimismo. “Ao final do dia, eu ainda sento aqui e
escrevo alguma coisa, jogo diante do mundo ou engaveto para o futuro, estou
fazendo a minha parte, e vocês, chupadores
de merda”? Eu quis tanto dizer isso, mas balancei os ombros e deixei que se
fodessem com suas certezas falhas e cheias de críticas. Não fazem nada além de
um blá blá blá longo e interminável, perdem suas vidas com palavras inúteis,
perdem-se no tempo, em seus quartos, nas janelas observando os vizinhos e
julgando-se superiores. Pois bem. Então irei trabalhar com o que gosto de
fazer, e um dia, quem sabe, eu até escreva um livro cheio de merdas filosóficas,
porém profundamente coerentes. E aí vou querer vê-los chupando pelo menos isso.
Vão continuar falando, mas aí eu já estarei lá, e vocês... É, vocês continuarão
onde estão. Chupando, chupando e chupando... Sempre as mesmas bostas.
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