17 de setembro de 2013

Chupadores



Eu poderia ser encaixotador, carregador, ajudante de auxiliar. Eu poderia ser qualquer coisa e ainda assim voltaria até aqui”. Recebi um olhar de desprezo, típico de chupadores de merda que adoram parecer superiores, mas que estão na mesma merda que você – ou até pior, ao menos eu uso a porra do meu cérebro. Olharam-me desconfiados, sem sequer entender minhas palavras, digo, não o seu significado superficial, mas o profundo. “E como tu vais ganhar dinheiro?”. Isso é um emprego! Não entra na cabeça de ninguém? Quis responder algo mais baixo, quis até responder isso, mas não coube ao meu cansaço, eu estava fraco demais para discutir a mesma conversa depois de tantos anos repetindo, repetindo e repetindo. Por isso retruquei “é um emprego, têm-se um contrato, ganha-se por isso. Você trabalha diariamente, cumpre um prazo e entrega o material”. É tão difícil assim entender? Só estou tornando meu ofício de sempre um “ofício oficial”. De um jeito ou de outro, os chupadores de merda continuaram com aquele olhar de superioridade, dando palpites sobre a parte da minha vida que eles nem sequer tinham se esforçado a chegar. Deixem-me. Eis a minha profissão, só estou agindo conforme aquele ideal que vocês tanto adoram dizer com frescura e idealização: siga seus sonhos. Eu estou seguindo os meus, ou tentando, não estou parando, apesar de todo o pessimismo. “Ao final do dia, eu ainda sento aqui e escrevo alguma coisa, jogo diante do mundo ou engaveto para o futuro, estou fazendo a minha parte, e vocês, chupadores de merda”? Eu quis tanto dizer isso, mas balancei os ombros e deixei que se fodessem com suas certezas falhas e cheias de críticas. Não fazem nada além de um blá blá blá longo e interminável, perdem suas vidas com palavras inúteis, perdem-se no tempo, em seus quartos, nas janelas observando os vizinhos e julgando-se superiores. Pois bem. Então irei trabalhar com o que gosto de fazer, e um dia, quem sabe, eu até escreva um livro cheio de merdas filosóficas, porém profundamente coerentes. E aí vou querer vê-los chupando pelo menos isso. Vão continuar falando, mas aí eu já estarei lá, e vocês... É, vocês continuarão onde estão. Chupando, chupando e chupando... Sempre as mesmas bostas.

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