Pairava ali algo inegável, uma
oportunidade boa e saudável do envolvimento iminente. Ela tinha um olhar
intenso, vivo de simplicidade e beleza, tão profundo e superficialmente enigmático.
Era uma piscina dúbia de atração e tranquilidade, ah, aqueles olhos. Mas a
menina era de Deus. Emanava Deus na maioria das palavras, embora mostrasse o
mesmo respeito que um homem profundamente sábio entre as farpas de dois
extremistas. Sim. Ela exalava Deus e respeito, mas, ainda assim, o pertencia de
corpo e alma – e mente, diga-se de passagem. Eis o entrave secular para este tão
mísero bobo que a admirava: no menino havia a contestação dos cientistas e o
humor dos kamikazes. Perca o amigo, mas
jamais perca a piada. Deus era piada, Jesus era piada, religião era piada. Ele
emanava piadas do mesmo modo que ela, respeitosamente, emanava o ser divino
venerado pelos mais bob... Pelos mais devotos,
quero dizer. Entrave histórico, entrave filosófico... Entrave de caráter. Ele
não jogaria fora a própria descrença para se dobrar diante de alguém tão santo
com excesso de crença. Orgulho? Talvez. Residia mais no respeito por ela. No
fim, talvez não quisesse se envolver para não magoá-la com suas piadinhas
infames e banhadas de blasfêmia. É, talvez nem fosse pelo orgulho e temor de se
corromper à fé, mas sim ao sacrifício de não magoá-la, ao sacrifício de não
ofender o que ela acreditava. Essa era sua forma de respeito, essa era sua
forma – quem sabe deturpada – de caráter. Como um homem santo que joga fora sua
própria vida em nome daqueles que tanto o julgariam, ele até aprendia
lentamente com isso a venerar o rei dos Judeus, que em seus dias vindouros pôs
o próprio cu na reta pelos pecadores que o depreciavam. Sacrificava a própria –
provável – felicidade para não machuca-la com trocadilhos secos e inteligentes.
Tão lindo, tão belo, tão divino - pena que a menina era de Deus.
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