3 de maio de 2013

Da metalinguagem ao abismo




Certa vez pensei em escrever um texto, cujo título seria “guerreiro”. Nele, eu descrevia todas as fortes razões para um homem voltar para casa, ao fim do dia ou da jornada, para a mulher amada. Eu descrevia, fibra por fibra, a imensa alegria de um homem ao ouvir um “eu amo você” da mulher apreciada, e o quanto isso o revigora de maneiras indescritíveis. No texto, eu dizia que ele enfrentaria todas as mais vis e sólidas barreiras para alcançar o caminho de volta e, ao fim da aventura, repousaria entre os seios da amada, o calor de seu corpo e delírio entre as pernas. Pensei em escrever esse texto em um ano que embora não esteja longe, me parece a lembrança implantada de outra vida. Mas eu nunca o escrevi, nunca coloquei em prática a ideia, não por preguiça, mas por um motivo que me soou estranhamente íntegro na época: se descrevesse o que sentia, se descrevesse mais uma vez, então compartilharia com o mundo algo que deveria ser mantido aqui, em segredo, distante do conhecimento de pessoas que nada tinham a ver com tais palavras. Soaria como uma motivação indigna; pareceria, no fim das contas, que o guerreiro em questão só desejava ser amado para ter forças e vencer batalhas, ou que o poeta só desejava ser amado para ter inspirações para escrever mais. Aos olhos do mundo, soaria exatamente assim. Mas não o é, e por isso jamais esse texto escrevi. Não pelo medo do mundo me julgar, mas pelo terror de você me interpretar erroneamente – coisa que, cá entre nós, parece ser uma terrível tendência sua. Não escrevi, guardando assim uma das razões por eu ter feito um milhão de coisas que fiz. O problema, ah, o problema, é que a motivação sumiu, desapareceu. Esse falho guerreiro não tem vontade para desbravar o que um dia desbravou, porque não há mais uma donzela esperando-o no lar com os braços abertos e sorriso no rosto. Por razões múltiplas, a donzela cansou de esperar, cuspiu e partiu com outro guerreiro ou talvez por si própria – porque mulheres vivem sem homens, mas o contrário não. Na batalha, só restou um inútil garoto com a espada na mão em meio à guerra. Isso não é para soar dramático, é apenas um pequeno e leve lembrete de que, às vezes, a atitude mais sábia está justamente em não sair de casa e em não ir à guerra.
É de suma importância que se fique. Ou o guerreiro conhecerá o abismo.

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