Não é frustrante?
Olhar para o céu e pensar que não
somos absolutamente nada comparados à imensidão do Universo?
Saber que nossas atitudes, daqui a
dois séculos, não terão a mínima importância ou não farão a mínima diferença?
Não é frustrante saber que você levanta, todo santo dia, estuda, trabalha, move
mais uma válvula do sistema para não ter uma grande e merecida recompensa? Que
enquanto você grita e se move, nos confins do Universo, neste exato ato e momento,
não há sequer um eco da sua voz retumbando? Não é frustrante? Não é frustrante
saber que um anônimo desconhecido, talvez um século atrás, tinha o mesmo
pensamento de mudança que você, tinha os mesmos pensamentos sobre amor, vida,
destino, propósito e existência? E que esse mesmo "anônimo
desconhecido", hoje sequer é lembrado, tornou-se apenas mais um elemento
decomposto embaixo da terra. Porque ele (ou ela) planejou mudanças, traçou
planos de revoluções e... Nada.
Apenas mais um mínimo parafuso compondo uma grandiosa máquina destinada à
ferrugem, oxidação, decomposição, apodrecimento. Uma grandiosa máquina chamada
vida - que em milhares de anos (e eu me refiro a dezenas e dezenas deles) não
terá sequer uma evidência de que existiu. Não é frustrante? Frustrante olhar
para o céu, tentar ser feliz, tentar fazer valer a pena, fazer a diferença,
traçar metas, planejar uma vida - apenas construir uma boa vida -, mas, de
repente, ter outro rumo (o de muitos) e num piscar de olhos notar que trinta
anos se foram, estar dando aula para uma porrada de jovens desinteressados,
obter um salário ridículo no fim do mês, alimentar uma penca de filhos palermas
e ter uma esposa interesseira e materialista. Ou nem sequer ter “tudo” isso. Não é frustrante perceber-se falho
ou literalmente efêmero? Não é frustrante acordar e saber que nada disso terá
valido a pena em um milhão de anos? Que alguém, em 1800 e bolinha, também
pensava da mesma forma e hoje nem tem seu nome lembrado? Não é frustrante?
Saber que alguém na guerra santa teve seu coração atravessado por uma lança,
sonhando ter o nome lembrado pelos séculos, mas que o destino foi apenas mais uma
fogueira entre milhares de companheiros com o mesmo sonho. Não é frustrante se
encher de orgulho por pertencer a uma espécie que está no topo, mas sequer
perceber que está limitada a uma esfera mutável que gira numa reles galáxia
pertencente a um universo dentro de outro, pairando em outro, mergulhado em outro,
dentro de outro, e outro, e outro... Não é frustrante saber que não somos nada, nessa imensurável imensidão indescritível
e inexplicável?
Não é frustrante?
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