Sobre o que é esse texto eu
exatamente não sei. Talvez sobre mim, talvez sobre as manhãs de Belém. Talvez
sobre um quarto quente e abafado como a maioria dessa cidade, sobre não ter
perspectiva, dormir muito e não ter, tecnicamente, um compromisso com as aulas
de cursinho e uma vaga na universidade. É sobre definhar enquanto você vê, com
o nascer de mais um dia quente, sua carreira escorrendo pela calha aquecida.
Digo, eu poderia estar na UFPA, mas disso já cansei de reclamar e aqui não vou
redigir mais reclames. Eu abandonei, virei a página, estou tentando de novo, ótimo. Mas ainda durmo. Mas ainda durmo
a hora que quero e, consequentemente, não acordo na manhã seguinte no horário
para encarar mais uma rotina de aulas massacrantes do pré-vestibular. Há quem
não me entenda, mas isso já é rotina. Falo aqui também sobre o clima de Belém,
falo sobre como é acordar 12h, com os pés gritando de dor (porque geralmente é
isso o que acontece quando você tem neuropatia diabética e dorme além da conta
ou simplesmente dorme). Não bastando a dor, está quente, um calor dos infernos,
uma preguiça diabólica e uma pré-disposição a morrer e passar o resto do dia
com dor e vontade para nada. Só me
pergunto quando instalarão a pequena central de ar nesse quarto, “simbora”,
pai! Gostaria de morar em uma região amena, pelo menos nas minhas condições. Aí
acordar tarde não seria um fardo – talvez o ato de dormir não seria um fardo – e finalmente eu entenderia as
fotografias lindas que mostram pessoas felizes deitadas o dia inteiro, sem
vontade de sair da cama ou... Espera. Elimino o calor, mas não elimino a
doença. Ainda assim eu sentiria dor, e esses últimos cinco ou oito meses não me
têm sido fáceis. Quando durmo (seja pela noite, manhã ou tarde) e acordo, sinto
dor. Se como uma colher a mais de qualquer coisa, sinto dor; se fico em pé por
cinco minutos, sinto dor; se ando de sandálias fora de casa ou passo muito
tempo de sapato... Sinto dor. E quem me dera (apenas um aviso aos críticos) essa
dor fosse como qualquer outra. Só tento dizer que não é tão simples quando seus
nervos não funcionam e estão afetados para o resto de sua vida. É. Como eu
desejaria ter saúde e uma Belém mais fria. Aliás, amo minha cidade, só não
gosto do clima.
Talvez a vida fosse um pouco menos
maçante. É, vai saber.
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