12 de maio de 2013

Um Beijo no Bar


Aquela noite estava sendo um porre, e não no bom sentido. O delegado no distrito policial, meu chefe, estava novamente me perturbando a paciência devido a alguns problemas na comunicação entre os setores e como eu era novo ali, delegado adjunto e coisas do tipo, resolveu me fazer perder alguns anos de vida, e conseguiu. E exatamente por estes anos de vida perdidos ouvindo um velho resmungão, provavelmente corno e que vive comendo a escrivã e acha que ninguém está vendo, decidi perder mais alguns anos destruindo meu fígado com álcool. No entanto a risada escandalosa da garota charmosa sentada na direção oposta a mim não me deixa prestar atenção na dose de tequila em minhas mãos.
Não sei o que foi exatamente o que me fez levantar do meu lugar e ir até o outro lado; mas os olhos castanhos dela acompanharam o caminho inteiro desde que decidi me levantar do banco. Rapidamente prestei atenção no grupo que estava com a mesma, e já sabia que a grande quantidade de bebida que os rapazes estavam pagando para as moças, não eram de todo um altruísmo caridoso e benevolente.
Andei como se fosse ir em direção a porta de trás, que dava para uma viela onde estavam estacionadas as motos, como também as lixeiras daquele estabelecimento "famoso" entre a população noturna da cidade, mas no ultimo momento me dirigi ao bar e sentei ao lado dela. Meus ouvidos atentando para a movimentação logo atrás de mim. Havia entrado no "território de caça" daquele grupo, e eles não gostaram daquilo.
Ignorei-os e prossegui com a minha investida.
— Eles realmente acham que vão arrastar você?
Ela sorriu de canto, e sem olhar para ele respondeu.
— E presumo que é você que vai me arrastar daqui?
Ela abriu um sorriso, só havia um deus que adorava loucura e vinho, Dionísio.
 — Bom… - ela saboreou o gosto da bebida, aspirou o aroma da mesma antes de me responder, os lábios já avermelhados devido o álcool – se você me explicar o que você faz aqui, eu explico o por que de eu estar aqui, feito?
— Feito – respondi com um sorriso aproveitando para apertar sua mão. Ela me guiou para o banco a seu lado, notei que firula excessiva era de propósito. A mesma queria o circo pegando fogo, e os dois machos atrás dela pareciam bem propícios a oferecem o sangue para o ritual que ao que parecia, ela me escolhera como mestre de cerimônia.
Não demorou muito e um deles veio na minha direção, os passos pesados de alguém levemente alcoolizado eram audíveis mesmo com a musica ambiente do local, uma balada bastante melodiosa e agradável.
— Ei! – ele colocou a mão em meu ombro e rapidamente olhei para ela, que me respondeu com um meio sorriso malicioso, era um desafio, se ela queria que eu provasse que era um macho antes de provar ser um homem, que fosse assim, a criatura dentro de mim uivava por libertação – Ela tá comigo!
— Você está com ele? – indaguei aproveitando para colocar as mãos no balcão e ficar com a cabeça na direção do halito dele.
— Nunca vi mais gordo! – retrucou eufórica dando uma piscada e sorrindo maligna, e como num passe de mágica, eu estava liberto! Com uma única cabeçada o fiz cair para trás rugindo de dor, provavelmente com o nariz e alguns dentes quebrados.
— Vamos! – gritei para ela que já estava correndo junto a mim em direção a porta dos fundos, o grupo atordoado vindo logo atrás de nós uivando por vingança.
Saímos em disparada pela porta traseira, onde minha bela chopper estava nos esperando, consegui ouvir o riso dela quando montei na mesma e dei disparada, saindo zunindo dá viela e entrando de cabeça na noite da cidade. O corpo da mesma já colado ao meu.
— Acelera! – ela gritou em meu ouvido, e já que estava levemente alterado pelo álcool, assim o fiz, preferindo enfiar a moto numa estrada que daria nas colinas e de onde poderíamos observar a cidade no vale abaixo.
Seguimos pela estrada por um longo tempo, até passarmos por dentro de um bosque e enfim sairmos nas colinas próximas a cidade. Dalí pra frente eram as fazendas, os sítios e as mansões dos ricaços da cidade. Acabo lembrando que a maioria do políticos da cidade moram por ali.
Chegamos ao topo da colina e estaciono a moto, girando a chave da ignição desligando o motor. Abaixo o descanso e só então noto que minha companhia está muito quieta. No entanto percebo que ela não está dormindo.
— Qual seu nome? – decido quebrar o gelo, afinal, nem o nome dela eu sei.
— Começa com D, e termina em anielle – ela retrucou com aquele leve tom engraçado na voz – e o seu, qual é?
— Ricardo – retruco, enquanto ela se ajeita no assento. Os olhos castanhos levemente marejados devidos ao álcool, exaustão e sono, mas percebo algo mais ali que não consigo definir.
— Então, Ricardo…você ainda não me disse o que foi fazer naquele bar.
— Perdendo alguns anos de vida ao ultrapassar o limite entre remédio e veneno devido a estresse no trabalho – ouço-a rir do trocadilho – e você, Danielle?
— Trabalho numa casa noturna – murmurou manhosa – e digamos que se trocasse a palavra trabalho por escravidão seria mais justo.
Ri de volta sentindo o corpo dela aconchegar-se ainda mais no meu, o que me levou a perguntar.
— Você está com frio?
— Com frio, com sono, e com vontade de tomar banho – murmurou de volta sem perceber antes de me retrucar – desculpa, não sou muito de desabafar.
— Nem eu, mas como provavelmente não nos veremos novamente acho que é aceitável desabafar com estranhos.
Senti o corpo dela apertar-se um pouco mais contra o meu, enquanto as mãos na minha cintura passavam a investigar meus bolsos. Deixa-a remexer, uma de suas mãos passou bem próxima a minha virilha até ela subirem por dentro da minha jaqueta e ela puxar meu Smartphone do bolso da jaqueta.
— O que vai fazer? – indaguei com certo receio.
Ela se afastou de mim e pude ouvir o som de dois teclados diferentes de celulares sendo digitados, quando olhei por cima do ombro notei que ela era ambidestra, em uma das mãos o meu celular, e na outra o dela.
— Deveria colocar senha no seu celular – sobrancelhas castanhas arquearam-se para mim antes dela me devolver o celular – qualquer um pode ver seus contatos e suas mensagens.
— Se você prestou atenção meus contatos estão em código, e não tenho nenhuma mensagem salva – girei novamente a chave da ignição da moto – vamos sair daqui, daqui a pouco passa a ronda da cidade e não quero ser preso por estar embriagado.
— De fato…
O tom de resignação na voz dela fazia bem evidente a noção que ela também já tinha passado por aquilo, soltei uma risada e rapidamente senti minhas costas esquentarem novamente quando a mesma preparou-se para descida em alta-velocidade colina abaixo. O que dava certo prazer ao saber que não estaria estragando demais os meus pneus novos em folha.
— Gostaria de ir até as docas se não for muito incomodo… - ela murmurou no meu ouvido apoiando o queixo em meu ombro — se não for muito incomodo é claro.
— Nenhum, gosto de ver a baia, principalmente do píer do forte.
Anuiu contra meu ombro antes de deitar a lateral da cabeça contra as minhas costas antes de apertar suas coxas contra meu quadril, dava para senti-la tremer de frio.
— Está frio hoje, cadê sua jaqueta?
— Acho que esqueci lá no bar – comentou sem se importar, antes de aconchegar-se mais um pouco – você é quente, embora calor não seja uma problema na nossa cidade que chega a 30º Celsius de dia.
— 35º você quer dizer, e que chega a 20º graus a noite, o que pra nós é frio pra cacete, mas pro pessoal do sul, é normal – comentei de volta rindo.
— Pelo visto você já foi no sul – os dedos dançando pelas fibras da minha camisa e dedilhando a musculatura do meu abdômen, o risinho que ela soltou deu calafrios em minha espinha.
Ri de volta antes de acelerar ainda mais minha motocicleta, que demorei um bom tempo para comprar. Na verdade boa parte do meu salário como federal.
— Com minha família na infância, passamos alguns dias na casa da minha tia – ri desacelerando um pouco a moto esperando que ao chegar no sinal vermelho ele se torne verde, e quando isso acontece acelero novamente – um frio danado para um certo garoto magrinho que além de tudo, pegou catapora.

Sua risada cortou o ar, o passando pela sua garganta vibrando suas costelas e então vibrando as minhas.
— Você ri por que não foi com você – retruquei com um tom humorístico na voz acelerando ainda mais, estávamos a uns 80 km/h e em segundos já estávamos em alta velocidade, já sabendo que a resposta dela seria rir loucamente.
Descemos a pista em alta velocidade, e eu tinha uma leve pressentimento que infringir leis de transito mesmo sendo um agente publico, não seria a única coisa realmente ruim que me aconteceria ao estar com ela.
E sinceramente, como eu odeio estar certo.


(Malévolo)

~

Abri meu email e lá estava isso, autor desconhecido com pseudônimo maneiro. Só postei porque curti a história e quero saber o que vai rolar. Parece interessante e tinha um recado dizendo que o título faria sentido depois, CASO eu postasse. Então ta aí, anônimo. Mande mais! E quem é que tenha sido... Revele-se, isso é tenso. '-' 

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