Eu quis senti-la, para aplacar uma
ilusória fantasia de que é outra pessoa em minha frente. Daí a ilusão, daí a
fantasia. Não é ela, Felipe, nem por
dentro, nem por fora, mas parece tanto... Maldita praga. É desprendimento que
procuro e o mundo não permite. Aqui sento eu, na vão tentativa de sentir seu perfume. Que idiota. Ela está á frente,
a um palmo de distância e nada digo, pois o que almejo é apenas um cheiro, o
pairar do aroma em sua pele, dos cabelos negros escorrendo, lisos, pelas costas,
fazendo de conta em sua aparência análoga que é outra pessoa, aquela que não me
larga – aquela que não posso deixar.
Mas eu disse: a tentativa é vã e não consigo seu perfume sentir. Maldição?
Azar? Nunca. A apreciação, porém, não
tem fim, já que ela ainda está aqui, a um palmo de mim, a um palmo de dizer “oi”,
tão perto, tão almejável, tão provável e fácil. Fico aqui, permaneço. Em sua
quietude distraída durante a aula – conversando volta e meia com um breve
comentário, uma risada singela com o tom de voz agudo, um passeio dos dedos
sobre a tela do celular ou um movimento de mão entre os cabelos – seu tórax
sobe e desce, tão calmo quanto o arfar de uma lustrosa e imponente Nyctea scandiaca. Sua respiração me aplaca então,
afagando a frustração primária do perfume, mergulhando-me na brutal e sádica
contemplação silenciosa, carente de oratória e coragem. Mulher análoga, garota parecida, queria eu ser capaz de sentir teu
respirar escapando pelas narinas, quente, intenso, tranquilo, aquecendo em mim
qualquer parte (uma fibra de pele já me basta), fingindo que sou teu, fingindo
que és minha... Fingindo que és ela,
em meio ao padrão dos olhos, a cor da pele ou a textura dos negros cabelos. Maldita
fixação de lembrete, maldita lembrança, maldita comparação e covardia!
Queria eu sentir teu cheiro.
Queria eu sentir, pelo menos, tua
respiração.
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