22 de fevereiro de 2013

Nada II




É a eterna procura: o lobo pela flor, o vampiro pela criadora, o homem santo pelo pecado. Eu queria escrever um mundo inteiro de palavras aqui, mas elas já não fazem sentido, porque perderam o foco, perderam o rumo. Palavras não são nada, não mais um trunfo, não mais uma dádiva, não mais absolutamente nada. Nada. Deixou de ser um hobbie para virar transparência medíocre, necessária. Deixou de ser tanta coisa, para enfim virar um nada. Nada. Não é a primeira vez que o vazio toma conta, tampouco será a última. Não, talvez eu esteja errado. Quem sabe essa é a última, numa ladeira tão consciente que eu nem lembrava que havia profetizado naquela carte que nunca enviei – embora guarde o endereço até hoje. O nada, antes, foi um tudo que eu apreciei. Um texto intitulado “nada” que descrevia tudo, um mar sem limites e um céu de verão. Hoje o nada reflete a busca sem encontro, objetivo sem vitória. Não perseverá, não mais. Queria eu ter intitulado este acúmulo de letras com um nome mais belo e um significado melhor, mas, outra vez, palavras são palavras: elas não movem o mundo; não empurram pedras; não removem obstáculos; não concretizam ações. Acabam sendo um resumo sádico e monótono da minha própria vida, que não vai tocar ninguém, tampouco ficar na memória. Daqui a cinquenta anos, quando todos vocês estiverem velhos no auge da idade de prata, aposto meus tostões - se é que eles valerão de alguma coisa – que não recordarão de mim. Eu não vou me eternizar, eu não vou mudar, não vou impedir, não vou refletir consequência alguma. Nada, nem nada. Eis aqui um texto de título decadente, mas derradeiro e iminente. Eu não pude fazer muito, mas já me era presumível, esteve na minha consciência desde o início e agora se concretiza. E o que valerão minhas palavras ante o toque de uma mão quente ou um beijo real?  Quanto valerá meus tostões, minhas boas e afundadas intenções e meus textos que se perderão no tempo? Querem uma resposta? Tu queres uma resposta? Me balbucie o título, que te confirmarei com um triste sorriso.
Apenas o nada.
E nada mais. 

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