13 de fevereiro de 2013

Não me pertence




Piso aqui para mais uma criação ambígua, dessas que farão mentes erradas concluírem certo e mentes certas concluírem errado. Desço aqui para mais um produto dos olhos, que tangenciam uma existência quase divina. Quase. Mas para homens como eu, o perfeito e o divino estão mais próximos do qualquer senso comum de ciência e concretude, a linha entre eles é tão tênue quanto um liso fio de cabelo teu que eu desejo apalpar na ponta das mãos. Sabe, aquele mesmo fio de cabelo que você deixou na minha cama naquele fim de tarde, correndo para sair antes que minha mãe chegasse em casa. O teu perfume ficou encravado no travesseiro e no lençol, teu hálito ficou pela minha boca, num tom sincero de despedida que, no fundo, eu não sei se amanhã vai voltar. Eu deito nesta mesma cama em que estivemos juntos, mesmo que por umas horas vadias, beirando a consumação da carne – às vezes até acontece, às vezes não, afinal, ei, você tem um medo imenso da minha genitora. Contemplo esse meu teto de forro claro, vagando entre a curva evidente dos teus lábios, contemplando a delineação característica deles e bolando mil apelidos para te irritar. São lindos, mas juro que se pudesse mudar algo, você o faria justo com eles. Eu penso em você, quase toda hora, e meu coração palpita com tantas fotos intencionalmente falsadas por uma inocência modesta. Faz isso para provocar Deus e o mundo, dos mais jovens aos mais maduros; dos mais lindos aos mais feios; dos mais espertos e aos mais idiotas, como eu. Queria eu que você me pertencesse, no sentido literal, no sentido do tato, da pele e do beijo. Queria eu que as linhas que te dediquei aqui, deitada na minha cama com esses cabelos escuros e lisos fossem, de fato, apenas realidade ao invés de desejo. Queria eu que você estivesse aqui com todo esse pudor, com a magia do teu corpo e o volume dos seios. Queria eu que sua voz me soasse aqui nos ouvidos, e a risada irônica me fizesse parecer um menino ante a magistral manipulação do poder. Perfeito. Divino. Tão tênues, tão próximos e tão distantes, mas não me pertencem - nem um, nem outro.

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