20 de abril de 2013

Afundado




Afundado em teus olhos, afogado no mar sereno e épico dos teus escuros cabelos. Vou e volto, venho e me vou. Sem destino, sem rumo, pobre e moribundo. Afundado em ciúme silencioso, num seguimento sem rastros, sem pistas, nem danos, nem cogitações. Afundado na tua imagem em minha mente, das mil donzelas que sobem a condução, esvoaçando cabelos e pele que mais lembram você, por entre as ruas, nas sombras das mangueiras, dos olhos castanhos, da cidade úmida. Minha Belém, meu amado norte: a quilômetros – tão longe, tão perto. Eu te vejo vagando, conduzindo meu coração num cálice de amoras, sanguinário teor, que anseia e me constrói o terror. Rimas sem nexos, nexos desconexos. Com olhos rasgados, ligeiramente rasgados na fotografia polaroide que nunca existiu, porque meu mundo é cruel, vil e sedento por alegrias lastimosas. Estou afundado, afundando num pranto imaginário: lágrimas tuas que caíam por mim, hoje desaguam por ele, num oceano que não ousei desbravar. Fui covarde, dei meia volta, voltei. Minha donzela, do mar conturbado e pacífico, rainha do mistério, princesa da contradição. Se em teu sorriso existe ternura ou ódio, já não mais sei. Mas que me afunda, vive afundando e matando, disso tenho certeza. Afundado. Afundando. Em teus cabelos, pele e olhos. Corpo vil, corpo esguio, sonolento, inocente. Afundo mais a cada memória. Indo, indo e indo. Sem volta, sem oxigênio, sem calma, sem glória. Só dor. Afundado, afundo. 

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