22 de novembro de 2012

Coroa




Sem problemas com a coroa. Coroa?  Tá novinha, vai, admito, nem às margens dos 40, com rostinho de 30. Aliás, volto a repetir: sem problemas com ela, e uso ”coroa” porque ela é minha – me pertence – e assim escolhi tratá-la neste texto. Prosseguindo: nos damos muito bem, bem demais. Eu não sobreviveria sem ela, devo minha vida, por sinal. Mas é o jeito que ela me olha de vez em quando, sabem? Aquela tonalidade sutil com um sorrisinho misterioso no rosto. Ela me avalia porque, assim como ela me pertence, eu também pertenço à ela. A coroa me conhece mais do que ninguém, porque me educou e me viu crescer. Mas às vezes, e como todo o bom filho, eu dou uns vacilos e sou um estúpido bruto. É justamente aí que ela me olha e começa a ter aqueles pensamentos que, acreditem, eu sei muito bem quais rumos estão tomando, porque antes ela já verbalizou com nojo e desorgulho, e nunca esqueci. Não sou vítima, sou o culpado, que fique claro. Quando ela me analisa com desânimo e responde todas minhas perguntas. Fica claro pra mim porque sou assim, tanto por fora, quanto – principalmente – por dentro. Ela tem razão, afinal. As mães sempre têm razão. E quando ela diz que terminarei essa vida sozinho, sem ninguém ao lado, é porque ela não está sendo carrasca ou extremista, e sim verdadeira. No fundo, é um suave conselho que me sussurra: “Faça certo, seja diferente, por favor. Por favor, meu filho, ou você estará perdido, sem ninguém, sem alegrias”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário