É à noite que os medos dele
atormentavam, talvez por isso madrugadas inteiras são tecidas de olhos abertos
e xícaras já frias de café. O temor de pregar os olhos latente e palpável
ganhava força a cada dia, já não eram somente os pesadelos que o assustavam, e
sim as formas de vida que as sombras ganhavam em seu quarto. Por alguma razão
estranha, nas poucas vezes que conseguia deitar para dormir (quando se
esforçava a isso), insistia em deixar as luzes apagadas por duas razões: primeiro
que ele não era acostumado a dormir no claro e, segundo, necessitava superar
esses medos infantis. Mas alguma coisa o dizia que existiam monstros de baixo
da cama, demônios profundos moldados no interior mais obscuro de sua criativa
mente; mãos ensanguentadas saíam das paredes para acariciá-lo os cabelos; humanoides
deformados arranhava e faziam “toc-toc” na janela acima de sua cabeça;
espectros negros ganhavam forma nas intersecções das paredes do quarto,
movimentando-se como nuvens de um dia tempestuoso. A pior parte, no entanto,
era ter de imaginar que algum dos familiares estaria – e de fato está - a ponto de chegar ao fim da
jornada, porque acidentes acontecem o tempo inteiro e porque alguns deles já
estão idosos. Na realidade, ele tem
medo de ficar sozinho porque sabe que a presença dessa ideia é iminente. Mas
apesar de toda a tormenta que poucos sabem que se abate dentro de sua cabeça,
ele ainda consegue dormir. Seu problema não é a insônia, afinal. Os monstros psicológicos de sua mente são fruto da própria criação,
já que no ofício do dia, o garoto não vai escrever sobre seus medos e
pesadelos, pelo contrário: é por tanto pensar nesses demônios, que ele acaba
tendo os pesadelos. Entendem? Ele dá vida
aos próprios medos através das palavras, não os medos que dão origem às
palavras. Sim. Na realidade, seus
tormentos monstruosos são consequência e não a causa. Esse acaba sendo o preço
por imaginar demais. Mas no fim, há de virar costume.
Sempre vira.
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