2 de maio de 2011

Disco arranhado



Inicialmente, devo enfatizar que isso não é uma generalização, portanto, não caracterizo todas as pessoas com tais qualidades.
Todos nós já estamos cansados de todas essas fatídicas notícias que nos bombardeiam todos os dias. Crimes em geral, envolvendo crianças, idosos, pessoas inocentes, massacrando vidas e ceifando a felicidade de famílias inteiras, círculos de amigos ou – nos casos bem mais graves – até mesmo países inteiros. Saindo desse ambiente catastrófico, e tomando os mais “habituais” e corriqueiros que ninguém toma conhecimento, vemos os diversos problemas familiares e conjugais que não diferente do primeiro, trás não tragédias, mas algo bem pior – a meu ver – do que elas: a tristeza prolongada e mágoas que não poderão sarar, tampouco ser perdoadas.
Direciono essa discussão não aos problemas em si, mas o fato de algumas pessoas terem sofrido tais problemas bem antes, muitas vezes no ambiente familiar ou escolar, e, após atingirem a idade adulta e constituir uma família, vir a repetir os mesmos erros que seus pais, amigos ou parentes cometeram com eles. É a tal característica que nós seres humanos temos de, ao invés de combater tudo aquilo que nos trouxe tristeza, repetirmos tais atitudes com nossos semelhantes.
Sim. Somos como discos arranhados: travamos em algum trecho de nossas vidas, e sem a menor tentativa de superá-los, damos um “ctrl v” e seguimos em frente, sem ao menos percebermos ou, quando isso acontece, fingimos que não vemos e não tentamos consertar o erro. Isso é grave, muito grave, e os “corriqueiros problemas” que nos acometaram no passado voltam a se repetir com nossos filhos, netos, parentes, amigos ou desconhecidos – já que é óbvia aquela ideia clichê de “respeito ao próximo”.
E como uma bola de neve, o problema não é sanado, como deveria ser o fato certo a ocorrer. Os erros se repetem, e conforme o tempo transgride, eles ganham força e velocidade, tomando imensidões tão alarmantes que suas consequências divergem em direções esporádicas. Os problemas resultantes desses erros tendem a “espirrar” para todos os lados, e novamente, atingirão outras pessoas que poderão ou não repetí-los num futuro próximo. Percebem o quanto o problema é grave?
Tomemos como exemplo o massacre em Realengo. Esta semana li um texto fantástico que apontava como verdadeiro culpado não o assassino “psicopata” que cometeu o crime, mas sim todas as pessoas – amigos, profissionais, familiares – que passaram pela vida dele e não deram a devida atenção ao fato dele ser esquizofrênico, aos profissionais que não perceberam ou não se interessaram com todas as provocações que ele sofria e, principalmente, a todos os colegas que aplicaram o chamado “bullying” ao garoto. Tais pessoas que não deram as devidas atenções e tratamentos, hoje, apenas o criticam por sempre ter sido “um garoto estranho” e ter feito tal ato, e em nenhum momento olham para trás na intenção de enxergar sua – grande – parcela de culpa no imenso problema que se acumulou durante anos e culminou no trágico ocorrido. Como apenas um garoto, ele guardou a tristeza por tanto tempo, e sim, pôde muito bem ter perdido a racionalidade por conta disto.
O problema então, não termina aí. Olhemos para as vítimas do massacre. E se por ventura, por conta do desinteresse de alguma das partes envolvidas, alguma criança deixar de ter o acompanhamento psicológico adequado? O que ocorrerá com tal criança e em que adulto ela vai se tornar? Quantas vidas ela afetará em seu caminho e, essas vidas, afetarão quantas mais?
Por isso devemos dar mais atenção às pessoas ao nosso lado, ajudá-las com seus problemas e aprender com eles, para que também possamos aprender e corrigir os nossos. Como quando mães e pais se mostram ausentes, há uma grande possibilidade de seus filhos se tornaram pais e mães ausente também, mesmo que isto se desenvolva a partir de um ponto inconsciente e desproposital.
Portanto, crianças, não devemos deixar que tal condição humana se construa com os anos dentro de nós. Precisamos abandonar os riscos ou arranhões que há em nossas vidas, e torná-los moldes de como alcançar as atitudes certas. Como discos arranhados, não permitamos que tais imperfeiçõess se perpetuem por várias gerações, vamos aprender com elas para sermos pessoas melhores, e construirmos uma geração ainda mais exemplar e ideal.
Tal atitude e tal feito são possiveis, só precisamos largar a “conscientização” e partir, de fato, para as ações. Lembrem-se, como diz aquele famoso provérbio africano: “Quando começar a rezar, mexa seus pés”. Portanto, basta agir e resolver nossos próprios problemas, sermos diferentes e – aqui vão as palavras de alguém que realmente vive tal situação – não darmos aos nossos filhos o tratamento que nossos pais ausentes nos deram.
E... Enfim, sejam diferentes. Passem bem.

Um comentário:

  1. Você é/será diferente, eu sei! E, eu estou aqui, você sabe né?! (:

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