16 de junho de 2012

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Fumou pela última vez e abandonou o cigarro. Não faria mais aquilo, nem valia a pena, pois que morresse de loucura e não pelo próprio corpo. A sensação era boa, relaxa e aliviava. Mas estava decidido a largar, era inevitável. Também fechou o caderno, deixando a caneta na página que acabara de escrever. Estava pronto. O esboço do sucesso, a fórmula para sua fama. Um sonho esperado, mas já pouco admirado.
Foi quando ela chegou. Sentou ao lado dele. Ficou em silêncio. Bufou. Jogou os cabelos para trás e olhou para o horizonte com aquele olhar desdenhoso. Coisa ridícula. Ele odiava e amava. Dois lados de uma moeda, paradoxo sentimental.
- Eu odeio o que você faz. – Ela disse, distraída.
- Sei que odeia.
- Você tem milhares de fãs por aí, por que logo eu?
- Você enxerga o que elas não enxergam, seja lá o que for isso. Não te basta?
- Não.
- Foda-se.
Silêncio. Ela sentiu o cheiro de cigarro. Sentiu vontade, mas era algo tão distante e fraco que logo se dispersou. Uma ideia frágil, desejo instantâneo.
- Você escreve mal. É ridículo e meloso. Odeio suas histórias. Odeio esse ofício de escritor. Não vai te levar à nada. Merda nenhuma – Ela voltou a falar.
Ele sorriu. Olhou para o mesmo horizonte que a garota.
- Por isso eu gosto de ti. Odeias em mim tudo o que as outras amam.
- Pois é, fazer o quê?
Silêncio. Ela levantou, olhou para ele com o tom de desdém e perguntou, impaciente:
- Você vem jantar?
- Claro. – Respondeu, atencioso. Olhou para ela e sorriu. – Já estou indo.
- Vou te esperar. Não demora. – Finalizou mais maleável, dócil e preocupada.
- Beleza.
Ela foi embora pelo mesmo caminho que veio.
Já ele sorriu, satisfeito e livre. Olhou para o livro entre as mãos. Ela realmente tinha razão por achá-lo meloso e sem talento, mas fazer o quê? Cada um tinha seus defeitos, e o dele era estar aficionado pela garota.
E vice versa.

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