2 de agosto de 2012

Chamada




Ela ligou para ele, naquela noite chuvosa. Estava se sentido sozinha, inconsolável e perdida. O namorado acabara de sair, cabisbaixo por saber que não conseguiria resolver seus problemas. Era um bom rapaz. Moço trabalhador, direito, dedicado. Talvez até fosse fiel, mas quem saberia ao certo? No mais, havia algo nele que não a satisfazia. Talvez estivessem juntos por pura fachada ou para aplacar carências bem mais profundas. Vai saber? Por isso ela estava sozinha naquela noite, longe do namorado e ligando para o outro. Sim, o outro. Não trocavam carícias, mas se entendiam nas palavras. Se completavam, de uma maneira estranhamente diferente. Aliás, as próprias relações eram estranhas entre os dois. Não se entendiam, mas sempre precisavam um do outro.
- Atende, atende... – Ela sussurrou, com o celular preso ao ouvido. A chamada era interminável, era apenas a segunda vez que tentava.
Ela desligou. Da janela do seu quarto, observou a chuva cair. Jurando para si mesma que ligaria só outra vez, e então esperaria ele se desocupar e retornar a ligação. Ou talvez largasse o orgulho e atendesse. Ele poderia estar fazendo mil coisas, na cabeça da garota, um mundo de acontecimentos se passava com ele. Ela ligou outra vez. Precisava dele. Estava sozinha. O namorado não dava conta. Precisava sentir a ternura e o cuidado que tinha com ela, necessitava sentir que era importante para pelo menos alguém nesse mundo, e esse alguém era ele. O garoto nunca negava, nunca a deixava passar. Estava sempre disponível. Sempre estivera.
Ela ligou. Apertou o celular entre os dedos.
Chamou. Chamou. Chamou.
Do outro lado da linha, o garoto saiu de baixo das cobertas e agarrou o celular na cabeceira. Olhou o número e o nome. Já era a terceira  vez. Seus olhos brilharam. Jurem por Deus, os olhos dele brilharam feito diamantes sob o Sol. Então apertou o botão que silenciava o toque. Deixou chamando e, embora hesitante, voltou para de baixo do lençol. Ele tinha seus momentos e necessidades. Já deixara de viver alguns lances por aquela menina da ligação. Ela saberia esperar, daquela vez. Todos tinham direito de distração. Dispersar pensamentos, males, ciúmes e inveja. Era só o que ele estava fazendo.
A outra garota, a loira, o chamou para voltar às fervorosas carícias. Realmente não se importava com o toque do celular dele. Seja quem fosse, iria esperar. Os dois partilhavam do mesmo pensamento, só que ele sentia uma pontada de remorso. A loira gemeu. Ele continuou. Deslizando as mãos e brincando com os dedos; passeando com a boca, a ponta da língua e movendo o quadril para frente e para trás. Ele fazia o serviço, a loira gemia.
Sobre a cabeceira, o telefone tocava. Chamando não pela terceira vez, mas já pela quinta.
O garoto não atendeu. Já tinha sido ignorado por um certo tempo; havia sido trocado e revogado somente nas horas de carências existenciais da garota. Ser um substituto incomodava e ele precisava se distrair.
Fodendo, fodendo e fodendo.
Simples assim.

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