25 de agosto de 2012

Harém #02 - A Árvore no Vórtice (Canção)



Vou contar uma história. Um tipo bem antigo de história, nascida na paráfrase do tempo, concebida no alvorecer do reino da paz. Esquecida por livros, recontada por uma canção. Forte, tão forte quanto a brisa cósmica. Leve, tão leve quanto um falso sentimento. Uma história antiga, datada dos tempos de calmaria e plenitude. Quando o homem era Deus. Quando Deus era inocência. Quando a verdade era dita, vivida e tocada. Quando tudo se acalmou. História antiga.
Vou contar uma história. Sobre duas jovens e maduras crianças. A segunda e a terceira.
Vou contar uma história. De uma menina loira de olhos verdes, saltitando em uma montanha. Com vestido azul pintado de listras brancas. Era uma bela criança. Seios avantajados, não tão excessivamente fartos, mas avantajados na sua pequena e delicada protuberância. Pernas alvas e claras como nuvens. Cabelos ondulados, loiros, esbeltos. Olhos verdes, verdes como uma lagoa sob os mantos da primavera. Olhos verdes, outra vez - a terceira – a menção aos olhos da menina. Verdes.
É tudo o que o garoto consegue lembrar de mais forte: aquele par de olhos.
Há também uma história sobre o garoto. Ele ama a menina. Um sentimento desconhecido por ele, no entanto. Mas é sentido. Vivido e aproveitado. Aqui começa a verdadeira história: duas jovens crianças, brincando e pulando pelas vastidões das montanhas. Rodopiando de mãos dadas, caindo e rolando sobre a grama. Sorrindo. Brincando. Duas crianças nascidas do ápice da guerra, através da geração do acordo de paz. A segunda e a terceira. Concebidas pelo ventre do verbo, do início da era das partículas. Duas crianças. Inocentes, doces e amáveis. Amando-se, acariciando-se. Fornicando a carne sem maldades, sob um Sol poente de um planeta ainda existente. Seguras de si, felizes, satisfeitas.
É disso que o garoto lembra. Dessa história distante, dessa época de brilho, tempo excitante. Onde o menino que é menina, coexistia entre seus filhos. Onde a menina que é menino, cumprira seu celestial destino.
Vou contar uma história. História de uma menina linda e doce, loira e astuta. Olhos verdes, coração negro. Negro por carregar a promessa do final derradeiro, por manter um ventre traiçoeiro. Menina linda, doce, astuta, meiga e loira. Que pelo amor de um garoto, sacrificou suas asas. Cortou a liberdade, despedaçou a própria paz. Levada pela ânsia dos novos homens. Tirada do garoto às forças e à morte.
Vou contar uma história sobre uma garota loira, magra e singela, trajando um vestido azul de listras brancas. Ela sacrificou a própria visão para não revelar a verdade; renegou sua calma por seu amor de ingênua idade.
Pelo garoto ela deu um espelho; pelo garoto ela repartiu um olho.
Pelo garoto cujo verdadeiro nome jamais vos será revelado, ela deu a própria liberdade.
Vou contar uma história. Sobre um casal de crianças ingênuas; sobre duas crianças – a segunda e a terceira – que prometeram fidelidade e honra; sobre a menina que na montanha do farol avermelhado, foi arrancada, possuída e acorrentada da alma que a completava. Ah, sim, vou contar uma história. A partir de uma canção, com partituras sagradas e secretas, contarei uma história. Sobre a ganância do homem novo para alcançar a magnitude das crianças velhas.
Sobre um garoto que busca uma menina.
Menina linda, doce e meiga.
Uma loira menina.

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