1 de abril de 2012

Coração de Pafos


Ao contrário de Pigmalião, não abomino as mulheres – muito pelo contrário. Ao contrário dele, não tenho razões para fazê-lo ou grande acúmulo de frustrações amorosas – embora apenas uma seja capaz de causar imensos desastres. Nessa parte, não temos nada em comum, mas não é só de diferenças que somos feitos. Assim como Pigmalião, eu construí algo imaginário e literário que completa o conjunto de todos os meus desejos. Ela se chama Evangeline – Eva, para os mais íntimos (vide Cemetery Drive). E nesse universo imaginário e paralelo, eu me enxergo como seu companheiro. Inventar algo que existe somente em sua cabeça e apaixonar-se... Sabem o que é pior? Isso é quase doentio. É anormal se apaixonar por uma personagem literária. É errado, mas ao mesmo tempo, compreensível. Eva é a junção de tudo o que amo, e de fato ela é inspirada naquela mulher que, hoje em dia eu vejo, jamais poderei ter. Sim. A musa inspiradora é real, ela é de carne e osso e tem um nome. Ela tem uma casa, uma mãe, um irmão, amigos, tios, tias, endereço, rua, cidade e estado. E a parte mais importante e cruel: está longe, muito longe de mim. O único conforto que encontrei foi unir meu desejo de tê-la à inspiração de escrever.
Aliás, isso é o que alguns dos grandes poetas faziam, certo? Inspiravam-se em suas musas reais para consolidar um amor concreto dentro de suas poesias. Acho que é isso o que ando fazendo; é isso o que ando fazendo quando escuto Summertime e, por alguma razão até hoje desconhecida, lembro da “minha” musa. E nada mais justo foi tornar Eva um anjo. Forte. Indomável. Inalcançável. Dona de si mesma. Amada por si mesma. Feita para ela mesma. Sou indispensável para essa musa assim como Robert pode vir a ser para Eva – são apenas planos e, como uma história, posso dar um final feliz ao menos desta vez; ao menos na ficção. Por outro lado, não é culpa dela, tentem entender. Não é culpa de ninguém, já que o homem não pode domar seus sentimentos mais arrebatadores. Assim como Pigmalião amava demasiadamente sua obra de arte, eu amo minha criação literária, porém, tal sentimento não supera aquilo que sinto pela garota real que vive e respira em nosso mundo real.
Antes de mais nada, entendam: a própria deusa Afrodite pode vir a conceder meu desejo de transformar Eva em alguém de verdade, retirando-a das linhas e textos da minha cabeça para a formação de carne, osso, dentes, olhos, pele e coração. Afrodite pode vir a ser imensamente bondosa comigo a este ponto, tal como na mitologia foi para Pigmalião. Mas... Mas, aí... Érr, a Eva é feita de palavras e imaginação, enquanto minha musa... Eu já ouvi a voz dela pelo celular; já vi seu rosto alvo escondido por um mecha de cabelo; eu já chorei – choro – por ela; sinto meu coração amolecer à simples menção de seu nome ou à contemplação de seus lábios. Por isso é diferente. Não quero que nenhum Deus cristão ou deusa Greco-romana venha a materializar uma obra de literatura, porque a própria realidade que existe é palpável e infinitas vezes mais perfeita.
Minha musa. Uma garota de 18 anos. Desculpa por escrever isso, desculpa por te assustar com essa minha aparente obsessão. Preciso cuspir essa agonia sentimental; preciso desabafar meus pensamentos. Foda-se se você vier a me desprezar; foda-se se você quiser viver sua vida – o que eu acho mais do que certo, não prenda-se aos compromissos e viva intensamente, você é jovem demais para gastar seu tempo com idiotas like me; foda-se se você se apaixonar por um cara mais interessante que possa aplacar suas necessidades de espírito; foda-se tudo. Você é melhor que um anjo. Você é melhor que qualquer outra garota. Você é melhor do que eu, melhor do que tudo.
 Você é a melhor parte de mim. E por aí vai...


*(Pigmalião é um personagem da mitologia greco-romana. Pafos vem a ser seu filho e, também, o nome de sua respectiva cidade consagrada à deusa Vênus).

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